sábado, 16 de maio de 2015

Fresta no tempo


Fresta
Não deve ter sido pela porta
Essa há muito fechei.
Talvez alguma janela mal cuidada, mal fechada, somente encostada. 
Que deixei, esqueci, abandonei e não mais cuidei.
Por alguma fresta com certeza ela entrou
Feito fumaça, feito neblina, feito fog inglês e silenciosamente se instalou.
Trouxe consigo todas as lembranças
Que pude rememorar.
Causou com certeza
Toda a dor que pode causar.
Relembrou... Antigas questões, falsas decisões, decepções por mim criadas.
Sofri todos os antigos movimentos e momentos
Os anos que deixei a porta aberta
Braços prontos e estendidos aos abraços
O coração no escuro e na solidão.
Somente a semente do retorno e da reparação.
E finalmente a dolorosa verdade do fim.
Mas, o fim daquele mundo legítimo.
Enquanto, nas quimeras continuavam as peripécias.
Aventuras entre o real e o imaginário.
Inseparáveis e indistinguíveis.
Encontros e desencontros.
Tanto que já não sabia o que era verdadeiro e o ilusório.
Como uma planta miúda, uma trepadeira, uma parasita.
As alucinações minguaram, amainaram, atenuaram, serenaram.
Que com o tempo pensei secou! Findou! Acabou!
Mas, hoje com a visita do passado em forma de fumaça e fantasia.
Percebi que nas minhas quimeras, alucinações, delírios e desvarios.
Existem com certeza vida, vigor e dor.
Que continuarão a me visitar eternamente.
E penso que mesmo que a idade me demente
Elas lá estarão.
Como roca das Senhoras dos Destinos, as Parcas.
Eternamente a fiar.


Nenhum comentário: