quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Enganos.

Enganos.

Passava um demo por uma estrada.

Disfarçado escondendo seus chifres e rabo.

Numa branca roupa de linho amarrotado.

Quem o visse diria: belo cavalheiro.

Pois, se engana, quem acha que o demo é feio.

Vinha alegre e satisfeito.

Muita maldade já tinha feito.

Muitas almas perdida encontrara.

E para sua coleção levara.

Estava feliz o endiabrado.

Quando um soluço, um choro desesperançado, chamou sua atenção.

Bela criatura sobre um tronco sentada.

Derramava rios de lágrimas.

Feliz como estava

Por incrível que pareça o demo diante de tanta beleza comoveu-se.

_ Diz-me rapariga por que choras?

_ Oh! Senhor foi meu amor embora.

_ Ora, ora. Homens sempre voltam!

_ Ele não. Pois, a morte o ceifou. Não verá mais a primavera. As flores brotando nos campos, a neve no inverno caindo, ou nela poderá fazer anjos. Não chutarás as folhas mortas do outono, ou tomará banho nos rios no verão. Não verá mais seus amigos, sua família. Não tocará o meu corpo, não beijará meus lábios, não mais sorrirá...A morte miserável deveria se acabar! Antes de me tocar.

Pensou o demo nas suas conquistas desse dia, e sentiu-se tocado.

_ Pois bem rapariga. Constrói um templo para mim. E somente quando a ruína a ele chegar tua alma a de te deixar.

Gargalhou e sumiu no mundo.

A moça não acreditou. Mas, pelo sim, pelo não. Mandou construir o templo então dos melhores materiais da região. Feito da pedra mais dura, de madeira de lei e tudo que demorasse a se extinguir.

Passa os anos, as primaveras, os outonos, os invernos, os verões. Passam os amigos, a família, os amores, os filhos, os netos e até os bisnetos se vão. Passa a beleza da mocidade, a curiosidade, a novidade, tudo ela sabe então. Nada mais a aprender, nada a conquistar, nada a dá prazer. Só esperando o templo desabar.

Volta pela estrada o demo. Do mesmo jeito estar. E ouve de novo o choro e o soluçar.

_ Por que choras anciã?

_ Não te lembras de mim senhor?

_ Ah! Fizeste um pacto comigo.

_ Sim. Construí para ti um templo. E ele ainda não desabou. Mas, minha vida aqui não tem mais sentido. Todos se foram, tudo conheci, só me resta a velhice e solidão, ossos que doem, tremores e aflição.

_ Então, aprendeste o valor da morte?

_ Sim meu senhor.

Levantando o braço do céu caiu um imenso raio que o templo destruiu.

A anciã sorriu. Aos pouco foi murchando, perdendo as carnes e transformando-se em pó.

O demo não lhe quis a alma. Pois, ela já experimentara o inferno de ser eterno como uma personalidade só.

Moral da história:

Cuidado com o que pede que poderá ser atendido.

Ou

Não faças pactos com demônios.

Ou

Ser eterno não é tão bom assim.

Ou

 qualquer outra coisa que aprendestes com esse continho.

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