segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Minha infância.




Cheirava a terra e capim.

A cana verde balançando o vendo.

O açude cheio de água escura.

Os pequenos caminhos nos levavam a todos os lugares.

A casa grande ficava no alto em cima de um monte.

Os bois pastavam tranqüilamente no capinzal.

As vacas ordenadas cedo pelos moradores.

As crianças nuas mostravam o corpo sem pudores.

E nós corríamos livres pelos matos.

Subíamos nas mangueiras, goiabeiras e jabuticabeiras.

Não existiam brinquedos e nem computadores.

Mas, existia a liberdade.

Controlada só em casa.

Onde não se fazia barulho.

Não se comia antes do meu pai.

Lavavam-se as mãos antes de qualquer refeição.

E tinha-se que dá bom dia a todos que chegassem.

Mas, lá fora era o paraíso.

Saiamos de manhã e só chegamos no Sol do meio-dia.

Retornávamos as brincadeiras até o Sol se esconder.

Não existiam mais escravos tinham sido libertos.

No engenho só tinha ficado mestre Salu.

Que nos contava como era a vida naquele tempo.

As lágrimas vinham aos seus olhos.

E aos meus também.

Não acreditava em tanta malvadeza.

Hoje longe daquelas datas.

Em frente à televisão.

Vejo coisas piores.

Vejo a morte ser tratada como algo banal.

E me dói o coração as lágrimas de mães e pais que perdem seus filhos.

O ódio existente entre pessoas, raças, religiões e nações.

Os corpos espalhados pelas ruas como se estivéssemos em guerra.

Já não quero ir lá fora.

Já não há liberdade na rua.

Só medo.

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