quinta-feira, 9 de junho de 2011

O único bem...


Na morte que esfria o corpo encontrei a verdade.


Nos últimos momentos em que entrelaçada a alma ao corpo sem vida.


Ouvi o que realmente pensavam e sentiam por mim.






Quanta inveja pelas minhas riquezas.


Quanto ódio pelo meu sucesso.


Quanta falsidade para aproveitar o que eu podia proporcionar.






Quantos amigos eram falsos.


Feras armando botes fatais.


A espera da hora certa.






Quantos parentes dispostos a se trucidarem pela fortuna.


Pela herança de um parvo.


Pelo ouro de tolo.






Que não se leva na última viagem.


Que não tem peso nos bolsos.


De quem parte.






Que dor imensa ao descobrir as falcatruas.


Confessadas ao pé de ouvido.


Ainda mesmo no campo santo.






O corpo ainda não esfriou.


E já todos querem se livrar do que me restou da terra.


Ossos e carnes apodrecendo a ar livre.






Poderia ter aproveitado melhor a vida?


Fiz tudo que a riqueza me proporcionava.


Viagens, luxo, prazer.






E por que me sinto só?


Por que não vejo amigos ou anjos.


Como dizem os religiosos.






A escuridão começa a me tomar.


As vozes vão aos poucos se apagando.


Ouço ainda algumas risadas.






Tudo termina no túmulo.


A areia que cai sobre o féretro é o último som que ouço.


O silêncio e a escuridão é meu destino.






Fico ali. Junto ao que fui.


Sem saber quem sou.


Aterrorizo-me.






Aos poucos ouço cantos infantis.


Enlouqueci de vez.


Perdi meu senso pelo medo.






Mas, as vejo...


Dezenas de crianças de luz.


Com flores nos braços.






Elas me chamam.


Eu atendo e saio da escuridão.


Da boca de terra que me tragou.






Reconheço algumas.


Eram do lar das crianças com câncer.


Que eu ajudava para abater dos impostos.






Elas sorriem.


Eu choro.


O único bem que fiz em vida.






Por interesse próprio.


Por egoísmo.


Libertou-me da prisão das trevas para a luz

Nenhum comentário: