sexta-feira, 4 de abril de 2008

Falamos de amor...


Falando de amor.

Falamos de amor e escondemos nossas mãos.

Que poderiam auxiliar tantos em dor.

Acalentar crianças sujas e abandonadas na rua.

Levanta o bêbado do meio fio nem que fosse para o colocar na calçada.

Não passamos as mãos nos brancos cabelos do ancião solitário.

Não enxugamos a lágrima do irmão.

Falamos de amor e nossa despensa está cheia de mantimentos.

E não doamos com medo que nos falte algo.

Que os doces e biscoitos findem antes do fim de semana.

Que tenhamos que sair do nosso lar e ter o trabalho de ir algo comprar.

E negamos que tenhamos o supérfluo.

Falamos de amor e não perdoamos.

A quem nos feriu com uma palavra maldita.

A quem mentiu.

A quem gritou conosco.

A quem não nos disse sim.

Não perdoamos nem a nós mesmos.

Falamos de amor e vivemos sem praticá-lo.

Reservamos algum dia na semana para o templo.

Algumas horas para a oração.

Alguns minutos para a caridade.

E todo o resto é nosso, para nosso prazer, que chamamos necessidade.

Falamos de amor e não o temos.

Não o temos para dar.

Não o recebemos para o acalentar no peito.

Não o reconhecemos quando o vemos.

Quando nos é ofertado.

Falamos de amor.

E nos iludimos que o praticamos.

Sem realmente reflexionar se isso é verdadeiro.

Como zumbis sem pensamentos continuamos a falar de amor.

Sem tê-lo,

Sem senti-lo,

Sem compreendê-lo,

Sem praticá-lo.

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