sábado, 11 de agosto de 2007

Despedida.



Na cama, estendido ele dorme.

Olho para cada parte sua.

Os cabelos esbranquiçados pelo tempo.

As pálpebras caídas.

Por baixo delas olhos que já não têm tanto brilho.

Já não têm tanta luz seus cristalinos.

Ao lado dos lábios as cicatrizes dos sorrisos.

Afinados pelo uso constante.

Faltam-lhe alguns dentes.

Outros estão desgastados pelo uso.

A face não tem mais o rosado da infância.

E as carnes se depõem flácidas sobre os ossos.

Na testa, mil caminhos que se estendem aos olhos.

São as rugas de milhões de expressões durante a vida.

A musculatura frouxa encobre a sua ossatura.

Não existe mais firmeza e delineamento.

Os órgãos também não se prestam à precisão.

Falham e funcionam lentamente.

Viveu comigo por toda minha vida.

Compartilhou minhas vitórias, minhas alegrias.

Minhas perdas e derrotas.

Sempre estava lá.

Quando voltava das minhas saídas noturnas.

Acompanhado pelos parceiros e guias.

Agora espero seu último suspiro.

As máquinas já foram desligadas.

O coração quase que não atende mais o seu propósito.

Os companheiros de outras jornadas esperam comigo.

Falta pouco...

Em um instante ele estremece.

O último fio que nos liga é cortado.

Chego próximo.

Dou-lhe o último ósculo.

Agradeço por ter sido a minha morada por longos anos.

Por ter suportado meus excessos.

Abraço meu guia e partimos.

Findou mais uma vida na Terra.

Inicia-se nova jornada no mundo da alma.

2 comentários:

Mabi disse...

Lindo e sentido, amiga :)

Espero ter a mesma calma e serenidade quando chegar a minha hora...

Adoro te ler :)

Beijinhos

Mallika disse...

Obrigada. Também vou muito aos seus escritos. Abraços.